
Há 50 anos
A INCM comemora, no dia 4 de julho de 2022, cinquenta anos de existência. Mas a história desta instituição, que agrega, na sua origem, as valências de duas instituições diferentes – a Imprensa Nacional e a Casa da Moeda – não se inicia apenas em 1972. Se os antecedentes da Imprensa Nacional remontam à segunda metade do século XVIII, já os da Casa da Moeda remontam, pelo menos, à segunda metade do século XIII. Estamos, por conseguinte, a falar de uma instituição que conta já cerca de setecentos e cinquenta anos de história, história essa que atravessa muitos séculos e que está indelevelmente marcada por alguns acontecimentos que determinaram aquilo que hoje somos e também aquilo em que hoje acreditamos.
Há cinquenta anos, o Museu Casa da Moeda ainda não existia. Apesar disso, existia já um outro museu, o primeiro museu dedicado à Numismática em Portugal: o Museu Numismático Português. Inaugurado em 1924 pelo Presidente da República Manuel Teixeira Gomes, o MNP abriu as suas portas no edifício situado na Rua de São Paulo onde a Casa da Moeda estava instalada desde 1720. Na sua origem, o MNP incorporava no seu acervo vários milhares de moedas e medalhas cujo percurso cruzava a história de duas instituições: a Casa Real Portuguesa e a Casa da Moeda. Se o primeiro núcleo do que, já no século XX, viria a constituir o MNP começou a ser reunido, em 1777, sob as ordens do rei D. José I e de Sebastião José de Carvalho e Melo, Marquês de Pombal, outras incorporações, como a que resultou da coleção reunida no Gabinete Numismático do Palácio da Ajuda pelo rei D. Luís I, no século XIX, vieram enriquecer significativamente esta primeira coleção numismática e medalhística “de utilidade pública” no nosso país.
A criação do MNP tornou possível a divulgação, junto do grande público, daquela que era, em 1924, a mais importante coleção do seu género em Portugal e também uma das mais relevantes em toda a Europa. Pedro Batalha Reis, o primeiro conservador deste museu, deu início ao estudo de uma coleção que ainda se encontrava por descrever e catalogar, vindo Damião Peres a finalizar esse meticuloso trabalho alguns anos mais tarde. O trabalho destes historiadores e numismatas viria a culminar com a produção de um conjunto de livros em papel, ainda hoje conservados, em que se procedeu ao inventário do acervo do MNP. Os critérios seguidos na altura determinaram também a descrição deste acervo sob a forma de milhares de fichas em papel, contendo o registo fotográfico de cada peça e os dados mais relevantes para a sua correta identificação e caraterização como objetos museológicos.
Este trabalho de inventário do acervo foi desenvolvido já no edifício que a Casa da Moeda veio a ocupar na zona do Arco do Cego, em Lisboa, concebido pelo arquiteto Jorge Segurado. O acervo do museu tinha sido transferido para este novo edifício entre os finais da década de 30 e os inícios da década de 40 do século XX, sendo-lhe então afeto um espaço próprio nas novas instalações, onde se manteve aberto ao público até 1987. Após a transferência desta coleção, o MNP foi reinaugurado no novo edifício, e, poucos anos mais tarde, foi concluído o trabalho de inventário do acervo à guarda da Casa da Moeda. Em 1977, C. M. Almeida do Amaral deu início à publicação de um monumental catálogo em que se procedeu à descrição do acervo do MNP, com especial destaque para o núcleo de peças portuguesas. A sua publicação foi um passo muito importante no sentido da divulgação desta coleção junto dos numismatas e colecionadores.
Nos inícios da década de 70 do século XX, época em que se deu a fusão entre a Imprensa Nacional e a Casa da Moeda, o MNP era um dos mais importantes museus do país. Criado com o objetivo de conferir visibilidade a um acervo único, o MNP sobreviveu à difícil conjuntura que Portugal atravessou no rescaldo da revolução de 25 de abril de 1974 e assistiu também à integração do país na então Comunidade Económica Europeia, a 1 de janeiro de 1986. Mas a história deste acervo, à semelhança da instituição que ainda hoje o guarda, é muito mais antiga do que por vezes se julga. Por este motivo, na altura em que a INCM comemora cinquenta anos de existência, nunca será demais recordar que também o MNP – e agora o Museu Casa da Moeda – deu um inestimável contributo no sentido de tornar o passado histórico um legado partilhado por todos os cidadãos.